Perspectivas do leite – A produção de leite está em queda na maioria das grandes bacias leiteiras, começando pela França, mesmo que tenha melhorado notavelmente a captação de dezembro, graças às reservas forrageiras, e um preço um pouco melhor.
Na França, a redução da coleta repercute sobre a fabricação de praticamente todos os produtos lácteos, com exceção do creme de leite. No entanto, a distribuição está bem equilibrada tanto para o mercado interno, quanto para exportação.
No cenário internacional, a menor fabricação de leite em pó desnatado, principalmente dentro da União Europeia (UE) e nos Estados Unidos da América (EUA) está sustentando os preços, em um momento em que existem sinais de recuperação da demanda. O retorno da África do Norte compensa a menor demanda dos países do sudeste asiático.
Queda na captação dos principais exportadores
A produção foi prejudicada no final de 2023 pela meteorologia, especialmente nos principais países exportadores. Observando a recuperação dos preços, percebe-se que os operadores não esperavam tal queda de produção.
Com a aproximação do pico de coleta de leite no Hemisfério Norte, fica a questão: qual será a amplitude da produção na EU-27?
Uma queda na UE mais forte do que a esperada
Em novembro, a captação europeia voltou a cair, -2,3% em relação a 2022. Esse recuou foi decorrente, principalmente, da queda na França (-4,8%), na Irlanda (-20%), na Holanda (-3,8%) e na Alemanha (-1,2%).
A conjuntura altista do verão foi interrompida na Alemanha e na Holanda, em setembro último, logo depois da queda no preço do leite, um convite para que os produtores tivessem mais prudência quanto às compras de insumos.
Os eventos climáticos também penalizaram a produção europeia. A tempestade Babet atingiu a Europa do Norte no final de outubro, depois a França no início de novembro. Por fim, a onda de frio na Alemanha, iniciada em novembro, fez cair a coleta de leite em -2% em relação a 2022, principalmente nas semanas 45 e 46.
Na Alemanha, assim como na Irlanda, o abate de animais de descarte aumentaram, limitando a produção de leite.
Na Irlanda, o clima de outono foi particularmente úmido, fazendo com que os produtores levassem seus animais para o confinamento antecipadamente, para evitar a degradação das pastagens. As disponibilidades de alimentação conservada não estavam em condições ideais, e ao mesmo tempo houve uma forte queda no preço do leite ao produtor desde o início de 2023. Assim, uma parte dos produtores anteciparam a secagem de suas vacas, o que pode explicar a forte baixa do nível de produção.
Uma leve recuperação dos preços foi observada desde outubro. Será ela suficiente para incentivar os produtores a aumentar a oferta de leite no momento do pico de produção?
Uma queda na produção nos EUA apesar de melhoria das margens
A produção no mês novembro caiu -0,6% na comparação com 2022 nos Estados Unidos da América (EUA). Com uma produtividade animal semelhante à do ano passado, a queda foi atribuída, principalmente, à redução no rebanho leiteiro (-0,5%). O Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) estima que foram 10.000 vacas leiteiras a menos entre outubro e novembro, uma redução não esperada, dado que as taxas de abate vinham sendo mais moderadas. Portanto, o declínio foi atribuído à menor entrada de novilhas em produção.
O preço do leite ao produtor subiu no final de 2023, no momento que o custo da alimentação animal registrou baixa. Dentro deste contexto, os indicadores das margens sobre os custos dos alimentos melhoraram, o que pode levar os produtores a entregar maiores volumes no pico leiteiro.
Mesmo assim, a projeção deste indicador de margem no mercado futuro de Chicago mostra, por enquanto, que esta melhoria será de curta duração.
Pico leiteiro decepcionante na Nova Zelândia
Desde o início do pico leiteiro no mês de setembro, a produção neozelandesa recuou ligeiramente (-0,4%/2022). Se a amplitude da baixa é modesta em relação ao ano anterior, este pico leiteiro foi considerado decepcionante, e está no menor nível de produção do quarto trimestre desde 2012.
As condições do tempo pioraram em dezembro. Na Ilha Sul, é a seca. Uma parte importante das regiões estão sendo irrigadas, especialmente em Canterbury, mas nem todas no Sul e no Oeste da ilha.
Na Ilha Norte são as elevadas temperaturas, próximas de 30ºC, que afetam a produção de leite. O serviço de meteorologia, NWA, reforça as previsões do fenômeno El Niño que trará fortes chuvas aleatórias na Ilha Norte (e um temor de que haja inundações e pastagens alagadas, impróprias para o pastoreio).
Os custos de produção aumentaram na Nova Zelândia neste ano, enquanto o preço do leite caía. A atividade, então, ficou menos rentável em relação aos anos anteriores, fazendo com que os produtores ficassem mais prudentes sobre os investimentos, especialmente em alimentação (suplementos).
A produção aumenta na Austrália
Na Austrália, a produção de leite retoma a trajetória de alta em novembro (+6%/2022) durante o período de pico sazonal. Ainda assim, é o segundo nível de produção mais baixo dos últimos vinte anos.
No entanto, a queda de captação acumulada por diversos anos, provocou um recuo estimado de -14% nas exportações nas exportações de 2023 em relação a 2022.
Entretanto, o clima no início de janeiro de 2024 é mais quente e seco o que pode mudar a dinâmica atual. Percentualmente, as variações deverão se manter positivas, porque houve um redução acdentuada dos números no início de 2023.
Estagnação da produção de leite na Argentina desde setembro
Na Argentina, a produção de leite foi mantida durante o 1º semestre de 2023. No entanto, desde setembro, ela apresentou queda acentuada, de -4%/2022 nos três meses seguintes, e que foi acentuada em dezembro (-8%/2022).
Segundo o Observatório da Cadeia Láctea da Argentina (OCLA), a maior parte da queda está ligada às margens negativas das fazendas leiteiras, atingindo mais fortemente as que produzem menos de 2.000 litros por dia.
Os preços do leite subiram em novembro, mas os encargos permanecem elevados no país, onde a inflação continua galopante e os produtores precisam comprar insumos importados a preços elevados em moeda nacional. Esta situação piorou em dezembro. Na realidade, com a eleição de Javier Milei, o peso argentino sofreu uma grande desvalorização no final do ano. O preço do leite ficou nitidamente inferior aos praticados no hemisfério norte.
O setor lácteo, conseguiu, no entanto, uma suspensão temporária de impostos de exportação dos produtos lácteos, melhorando a competitividade de exportação.
Melhora em dezembro, depois de um outono perturbado pelo clima
Na França, o outono de 2023 foi marcado pelo recuo pronunciado da captação nacional, atribuído às alterações climáticas importantes. No entanto, uma recuperação notável foi observada em dezembro, graças aos estoques de volumosos estocados de boa qualidade. Embora tenha sido registrada um recuo no 4º trimestre, o preço médio do leite no ano ficou acima do registrado em 2022.
A captação de leite francesa e os desafios meteorológicos
O mês de novembro foi marcado por uma nova queda significativa da captação nacional (-4,8%/2022), acompanhando a tendência observada em setembro e outubro. Nos 11 meses, a coleta francesa teve queda de -2,9% em relação a 2022. No entanto, graças à melhoria das taxas, a queda foi sensivelmente atenuada para -1,5% da produção de 2023 em relação a 2022.
As condições meteorológicas extremas de setembro a novembro impactaram a produtividade das vacas. E o milho ensilado em 2023, com elevado teor de amido, só ficaram mais digestíveis depois de muitas semanas. Desta forma eles passaram a ter um papel fundamental sobre a quantidade de leite produzida a partir de dezembro. De acordo com sondagens preliminares feitas pela FranceAgrimer, a coleta de leite retraiu apenas 1% em relação ao mesmo mês de 2022, coms resultados positivos no decorrer das últimas semanas.
No início de 2024, uma melhora da captação foi atingida, apoiada pela qualidade das forragens de 2023 e um recuo menor do plantel. Essa tendência positiva foi manisfestada nas duas maiores regiões produtoras de leite da França. No entanto, os riscos climáticos voltaram e se manifestaram no início do ano com nevascas, geadas e condições do gelo que prejudicam o desenvolvimento da captação, especialmente na Normandia. Além disso, continuam os efeitos das fortes chuvas e inundações de outono no norte da França. Em PAS de Calais, entre um terço e a metade das unidades produtoras de leite enfrentam as consequências maiores ou menores na qualidade e quantidade de leite produzido. Esses eventos, também impactaram nos estoques de forragens e muitas pradarias ficaram inexploradas. Sem esquecer de sublinhar os impactos psicológicos e financeiros sobre os produtores de leite.
Fonte: Idele – Tradução livre: www.terraviva.com.br
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